Câncer pode ter
relação com o trabalho
Um
levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca) listou pelo menos 19 tipos
de tumores malignos - entre os de pulmão, pele, fígado, laringe e leucemias -
que podem ser provocados pela exposição a produtos químicos e falta de
equipamentos de segurança adequados. Os dados fazem parte do estudo
"Diretrizes para vigilância do câncer relacionado ao trabalho",
divulgado na segunda, 30 de abril.
“Estima
- se que aproximadamente 20.000 brasileiros serão diagnosticados neste ano com
algum tipo de câncer relacionado ao trabalho”, segundo informou nesta
segunda-feira o diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Luiz
Antonio Santini.
“O
documento serve como alerta para a população, sobretudo para as autoridades,
que devem reavaliar as políticas públicas. A relação câncer e trabalho no
Brasil está subdimensionada, o que prejudica o plano de ação de enfrentamento
ao câncer”, alerta a coordenadora do estudo Ubirani Otero.
De acordo
com o estudo, 46% dos casos de câncer relacionados ao trabalho não são
notificados por falta de mais informação a respeito. Dos 113,8 mil benefícios
de auxílio-doença por câncer dados pela Previdência Social, apenas 0,66%
estavam registrados como tendo relação ocupacional. Em países com mais
pesquisas sobre o tema e políticas públicas voltadas para o câncer relacionado
ao trabalho, como Espanha e Itália, casos de câncer ocupacional variam entre 4%
e 6% do total de cânceres e na maioria das estimativas dos países
industrializados esse tipo de câncer corresponde a uma média de 5% dos casos da
doença.
"Não
basta saber a ocupação atual, mas também a atividade pregressa. Só com
informações corretas vamos conseguir relacionar câncer à ocupação. O Sinan
(Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde) tem
apenas 128 registros de câncer relacionado ao trabalho. Hoje, há muitas
mulheres trabalhando em postos de gasolina, com maior exposição ao benzeno; na
construção civil, trabalhando com telhas de amianto, cimento; como mecânicas,
ou seja, em várias novas situações de risco. É preciso melhorar esse
dado", afirma Ubirani
Para o
diretor do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador
do Ministério da Saúde, Guilherme Franco Netto, a publicação é inédita no
Brasil, e mostra o tamanho do desafio para os trabalhadores, gestores do
Sistema Único de Saúde, do Ministério do Trabalho, e da Previdência no
diagnóstico, na prevenção, assistência e vigilância nessa área.
“Esse
documento permite que organizemos integradamente (governos e órgãos de saúde)
os conjuntos de ações para combater o câncer relacionado ao ambiente de
trabalho. Hoje, as medidas são muito pontuais. Além de nos dar suporte técnico,
mostra uma dívida do Estado com a sociedade, que deve ser sanada”, comenta
Netto.
Guilherme
Netto lembrou ainda que após o boom industrial da década de 70, somente agora
casos de câncer antes incomuns estão aparecendo e que é fundamental
diagnosticar esses casos, notificar e prevenir para que novos casos não
aconteçam. Segundo ele, os sindicatos têm um papel vital principalmente no
processo de prevenção.
“Ninguém
do mercado vai apresentar uma lista dos problemas que um empregado pode ter em
função de determinado trabalho. O papel do sindicato, por exemplo, é muito importante
nesse sentido para alertar os trabalhadores sobre essas substâncias”, completou
Netto.
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